sábado, 12 de abril de 2008

Sinto em mim o vento da apatia
que corre inquieto
em mim, passa trazendo a liberdade
que desejo,
sem nunca me libertar

corro em sentido contrario
ao que o meu desejo projecta
dissecando o meu futuro
que flui num mar de palavras ausentes
onde tento ancorar.

6 comentários:

mjm disse...

[No mesmo sentido de
Somos senhores das palavras que não pronunciamos mas escravos das que nos escapam
continuo na demanda:
Há-de haver algum lugar além-palavra onde encontrar a primeira palavra-além!]

-----------

... se assim é, flui num mar de palavras ausentes/ onde tentes ancorar

mjm disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mjm disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
mjm disse...

fui ao sótão

[tinha eu dito]

Intocar

Liberto as palavras quando
não lhes toco.
Sempre.
As agrafadas inibem
o uso
de outras. As intangíveis.
As que não escrevo não existem.
São imensas. Porque não existem.
Mas é nessas que a pontilha metálica franja
as que quero possuir.
O espaço em que o agrafo se dobra em arco e enforma
abdómen de
ponte suspensa sobre a água corrente.
É o lugar onde
se realiza o binómio da palavra.

É no vácuo
translúcido e impalpável
em que o arco se suspende
que sou tocada.
Ou seria
ponte suspensa sobre a água corrente.
Mas esse ser não é o meu.
Esse é o ser da palavra tocada.

Atrás do infinito alojam-se
sem tecto
as palavras que desconhecem
o meu tacto.
São as que não escrevendo evoco.
Livres de maltrato
e eu nelas suspensa
em arco.

Tudo o mais são frases ou
aquedutos fossilizados.
Que transportam o mesmo.
Mas nunca o vácuo que adormece entre a
ponte suspensa sobre a água corrente.

mjm disse...

[ quanto à palavra-além, a coisa era assim:]

Não quero então sonhar. Nem.

Lá vai a imaginação percorrer
em círculos as fronteiras do verbo.
Reduz-se o pensamento à medida das palavras.
Percebes agora porque te não digo?
Se digo a necessidade falta o horizonte
Se digo tempestade falta o tempo do corisco
Por isso têm plumas as flores
E são azuis os veios das pedras
E as aves não podem ser pássaros poisados mas a voar.
Se te trago enganadas as cores dos meus objectos
Como te poderei as formas dos meus sonhos trazer inteiras
Se só posso sonhar o verbo dentro das fronteiras?

Não quero então sonhar. Nem dizer. Então. Nem.

Transvio palavras mas são esquálidos retratos que lembram imagens de falácias
E não me agarras se me perco
Tanto quanto me perco nessas garras de ninguém.
Não me servem as palavras nem os sons nem as imagens
Se dentro delas não correr o vento dos avessos do pensamento.
Desumanizo no descalabro das cigarras
Se te disser velocidades fragmentadas
Como passeios à beira-mente
E ainda me sento cansada de dizer nada que te acrescente.

Os pássaros voam pelos veios azuis das pedras até às plumas das flores.

Mas ficam presos dentro das fronteiras do verbo
Num exercício geométrico de pavores.

Não quero então sonhar. Nem dizer. Então. Nem.
Há-de haver algum lugar além-palavra onde aguardar a primeira palavra-além.

Anónimo disse...

Se o tempo voltasse para trás....
mudaria tanta coisa...
amaria tanta gente,
odiaria outros tantos,
gozava melhor os bons momentos,
sentiria mais a dor,
percorreria outros caminhos,
caminhos que não me atrevi a seguir,
receios que me impediram de me entregar,
medos de sufocar perdido,
tabus que não ousei desafiar,
alegrias que não soube acolher,

Como o tempo não volta para trás...
continuo a pensar no que faria se voltasse...
e perco o tempo a pensar no tempo que passou...
nas pessoas que não amei,
nos rancores que não guardei,
nos momentos que voaram,
na dor que não sofri,
nos caminhos que não segui,
nas entregas que não efectuei,
nos medos que não passei,
nos tabus que não ultrapassei,
nas alegrias que passaram por mim...

Em suma,
o passado persegue-me
sempre na angústia
de ser um presente passado
a pensar no passado
sem reparar que o futuro
é um passado queimado!!!